Cataplexia: a enfermidade de Jordi Évole

Mai 20, 2022 | PERTURBAÇOES DO SONO | 0 comments

A cataplexia é uma debilidade muscular repentina, que se produz enquanto a pessoa está desperta. Normalmente, a cataplexia é desencadeada depois de experimentar emoções fortes, que costumam ser positivas. Exemplos disso são o riso, a surpresa ou conversas felizes, ainda que também possa ser desencadeada pela ira, mas raramente por medo, stress ou esforço físico.

Os episódios de cataplexia podem variar, segundo a sua gravidade. Os episódios menos graves implicam sensações momentâneas de debilidade em alguns músculos, enquanto que os episódios mais graves implicam uma perda total do controlo muscular voluntário. O que mais caracteriza esta enfermidade sofrida por personagens como Jordi Évole? 

A cataplexia, a enfermidade de Jordi Évole

O termo “cataplexia” deriva do grego e significa “abater”, tal como nos explica Marián Carretero, membro do Colégio de Farmacêuticos de Barcelona. Num primeiro momento, foi descrito como um sintoma que podem apresentar as pessoas que sofrem de narcolepsia. 

Como dizíamos, a cataplexia manifesta-se como episódios repentinos de debilidade musculosquelética bilateral, causada por emoções fortes. Parece que isto poderia ser causado por um desequilíbrio entre os sistemas motores inibidores e excitadores, possivelmente devido à falta de um neurotransmissor denominado hipocretina.

Os episódios de cataplexia podem variar em gravidade. Os episódios menos graves implicam sensações momentâneas de debilidade em alguns músculos, enquanto que os episódios mais graves implicam uma perda total do controlo muscular voluntário. Durante episódios mais graves, uma pessoa colapsa, e não se pode mover nem falar. 

Ao invés de outras condições que causam a perda do controlo muscular, como convulsões ou desmaios, quem experimenta cataplexia costuma estar consciente. Os episódios costumam durar um par de minutos e resolvem-se por si sós. 

A relação entre a cataplexia e a narcolepsia

A narcolepsia é um transtorno do sono caracterizado por sonolência diurna excessiva, alucinações, paralisia do sono e, em alguns casos, cataplexia. Existem dois tipos de narcolepsia principais: tipo 1 e tipo 2, que se diferenciam, fundamentalmente, por padecer ou não de cataplexia. 

As pessoas diagnosticadas com narcolepsia tipo 1 experimentam episódios de cataplexia, enquanto que as pessoas com narcolepsia tipo 2 não costumam sofrer estes ataques. Para as pessoas com narcolepsia tipo 1, os episódios de cataplexia costumam começar depois do aparecimento de uma sonolência excessiva.

Se é verdade que a narcolepsia tipo 1 e a tipo 2 têm o nome de “narcolepsia”, compreende-se bem a causa da narcolepsia tipo 1 (perda de um neurotransmissor denominado orexina), enquanto que a causa da narcolepsia tipo 2 ainda continua a ser desconhecida.

As possíveis causas da cataplexia

As causas subjacentes a este problema ainda continuam a ser investigadas. No entanto, parece que a maioria das pessoas com cataplexia demonstram uma perda de certas células cerebrais que produzem a hormona orexina (também chamada hipocretina). A orexina desempenha um papel importante no ciclo sono-vigília. 

Grande parte do que sabemos sobre a relação entre a orexina (hipocretina) e a cataplexia provém da investigação sobre a narcolepsia tipo 1. Esta investigação sugere que são vários os fatores que podem contribuir para a perda de orexina em pessoas com narcolepsia tipo 1. Alguns destes fatores podem ser:

Doenças autoimunes

A perda de células que produzem orexina pode estar relacionada com um mau funcionamento do sistema imunológico. Nos transtornos autoimunes, o corpo ataca erradamente o seu próprio tecido saudável. Existe uma crescente evidência de que a narcolepsia tipo 1 pode ser causada pelo ataque do sistema imunológico às células que produzem orexina. 

Lesão cerebral

Algumas pessoas com narcolepsia tipo 1 perdem células cerebrais que contêm orexina, devido a lesões cerebrais, tumores, e outras enfermidades adquiridas. 

A cataplexia nem sempre está relacionada com a narcolepsia. Cerca de 30% dos episódios de cataplexia estão relacionados com outros transtornos, que incluem:

Doença de Niemann-Pick tipo C (NPC)

Esta enfermidade é um transtorno genético caracterizado pela incapacidade do corpo para transportar lípidos como o colesterol dentro das células, o que conduz à acumulação de substâncias gordurosas nos tecidos corporais. As pessoas diagnosticadas com NPC podem experimentar uma variedade de sintomas neurológicos, que incluem deterioração cognitiva, cataplexia e demência.

Síndrome de Prader-Willi

Esta síndrome consiste numa condição genética que começa na infância, e que leva a problemas de alimentação precoces, atraso no crescimento e no desenvolvimento, e um apetite insaciável. Nesta condição, tanto a excitação como a comida podem causar cataplexia. 

Síndrome de Angelman

Este transtorno genético afeta o sistema nervoso e provoca deficiência intelectual, problemas com o movimento e o equilíbrio, e deterioramento da fala. Muitas crianças com este transtorno sofrem de cataplexia.

De fato, esta enfermidade pode até ser causada por acidentes cerebrovasculares, processos inflamatórios do cérebro, ou tumores: cada caso é um mundo. E você? Conhece alguém que sofra de cataplexia?